Dolores era dona de uma voz e uma capacidade de transmitir
os sentimentos como poucos artistas que conheci. Pouca gente é capaz de
transportar o receptor para os seus lugares de origem fazendo-lhe sentir as
características daquele local. Os The Cranberries, sem dúvidas, era uma dessas
bandas capazes de fazer sentir um tipo de sentimento universal, ainda que
apreendidos por pessoas distintas.
A sua doçura, o seu jeito meio desengonçado de dançar, os
seus traços faciais, as suas expressões etc., fizeram dela uma das figuras mais
icônicas para uma geração inteira.
A cultura pop tem dessas coisas. Ela é capaz de falar pelo
todo, de expressar o sentimento geral que aquele evento ou celebridade
construiu.
Esse, talvez, seja um dos grandes encantos da vida, quando
encontramos pessoas que também foram tocadas por um sentimento comum à época.
O meu contato com essa voz marcante foi, provavelmente,
igual ao de milhares de outras pessoas mundo à fora. Suas músicas e,
especialmente, o tom adocicado da sua voz, parecia grudar nos meus sensores
de modo difícil descolar-se dela. A vontade de ouvir mais e mais se tornou
muito presente ao longo dos anos, de modo que as suas canções fizessem parte
dos diferentes momentos da vida.