Desde que me entendo por gente quase nunca tive medo de
voar. As vezes tenho a sensação de que viagens de avião e ônibus são tão parecidas que as pequenas turbulências se assemelham a buraqueira das estradas de
asfalto. Talvez têji no sangue, já que meu vô era piloto autodidata.
Já perdi as contas de quantas vezes viajei de avião. Isso é
algo muito importante pra quem viveu épocas em que aeroportos era coisa gente
muito chique, apenas frequentado pela alta sociedade.
Quando eu era bem moleque, lá pelos idos da década de 90,
passavam aviões em todas as direções, de um lado e do outro pelos céus de onde
eu costumava brincar. Às vezes, pareciam passar tão perto do chão que dava a
impressão que se chocariam com os prédios. Em outras, pareciam estar tão perto
que dava a impressão de que as janelas estavam abertas.
Contei essa história para o meu pai, um cara que viajou de
avião desde muito moço e para vários países da América Latina. Certa vez, disse-lhe
que tinha visto um avião tão baixo que vi as janelas abertas. Ele riu e me
contou que aquilo não poderia ter acontecido, pois, os aviões não podiam voar
de janelas abertas. Eu fiquei surpreso com aquilo, mas acho que ele entendeu
que era possível, de longe, ter a impressão de que as janelas do avião estavam
abertas.