domingo, 4 de fevereiro de 2018

Boas histórias

Devo ser a pessoa mais desatenta que existe. Às vezes, quando me dou conta que algumas coisas passaram desapercebidas, simplesmente não consigo achar maiores explicações.

Tentar ser mais atento não é um esforço dos mais fáceis. É que na verdade, sem motivo aparente, algumas coisas parecem chamar mais atenção do que outras, mesmo que aquilo que tenha passado batido tenha valor.

Minha vó (Dona Lindaura),  já contou algumas dezenas de vezes as mais variadas histórias familiares. Algumas delas ficaram fixadas na minha cabeça, seja por completo ou aos pedaços.

A tradição da oralidade  e a transmissão de todo tipo de experiência entre os mais velhos e os mais jovens parece não ter a mesma importância em famílias de meios urbanos. Acho que as pessoas que vivem nas capitais tem uma relação de apreensão um tanto quanto distinta das famílias que são do interior. Ao menos é o que parece.

Sei lá, é que a convivência tem se tornado tão mecânica que apreender as singularidades de quem nos cerca parece ser tarefa das mais difíceis.

Quando Fred morreu fiquei bastante triste. Depois de algum tempo, parei pra prestar atenção que nunca havia lhe perguntado sobre a sua espiritualidade. Achei isso de uma insensibilidade sem fim. As vezes, acho, falta um pouco mais de atenção. Atenção... Afinal, "seiscentos anos de estudos, ou seis segundos de atenção"?!
(*)

Minha vó tem uma história especial que ela conta sobre a passagem de Lampião pela estação onde o
pai dela (meu bisavô Cirilo) trabalhava em Itumirin. Ele era funcionário de uma antiga companhia de trens na época em que era muito chique fazer os trechos por este tipo de linha. Em um dia qualquer, ele avistou um bando de homens a cavalo de longe, e brincou: “lá vem o bando de Lampião.”

E não é que ele estava certo?

Ela conta que Lampeão saqueou tudo nas redondezas e por fim pediu para que o meu bisavô ateasse fogo a estação.

Disse Lampião da maneira mais óbvia e natural possível: “Queime”.

Meu Bis: Mas eu não tenho isqueiro.

(Àquela época, fumar era um hábito muito comum entre os adultos, principalmente homens, e o estranho era encontrar quem não fumasse.)

Meu bisavô deveria estar chegando pelos 30 anos.

Disse Lampião: Mas um homem desses, nessa idade e não fuma?!

Não sei o que ele respondeu. Aliás, não faço a menor ideia do que ele poderia ter respondido. Mas ao fim de tudo, conta minha avó, o cangaceiro mais famoso da história do Brasil arrumou o fogo e queimou a estação.

Meu bisavô sobreviveu. Ele morreu anos mais tarde de um ataque fulminante de coração. Prosa prum outro texto...
(*)

A história de luta e resistência é uma constante na minha terra. Canudos é uma das mais emblemáticas formas de resistência. Eu precisei sair da Bahia para me interessar por ela e por outras. Curioso, uma historiadora catarinense me fazer despertar o interesse.

(Na verdade, eu precisei sair da Bahia pra prestar atenção em algumas coisas...)

A nova cidade fundada fica há uns 20km da mistica "Belo Monte", que é o nome real da cidade no período de resistência sob a liderança de Antônio Conselheiro.

Há uma semelhança com os estudos que resolvi me dedicar acerca de Oriente Médio. É que em ambos, Canudos e Oriente próximo, a constante religiosa é presente, ainda que não sejam os motivos exclusivos... ok, sem papo cabeça...

Por falar nisso, planos de viagens até a nova Canudos são bem vindos. Que tal?!

p.s: Às vezes é tão difícil achar títulos pra textos que eu acho que isso deveria ser uma profissão\ofício remunerada\o.

Sob o risco de já tê-la postado por aqui - https://www.youtube.com/watch?v=PcRl1CwomiY

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