domingo, 17 de dezembro de 2017

Mudanças permanentes

Eu costumava ser uma criança bastante chorona e dependente. Até o final da minha infância e entrada na problemática fase adolescente, os ambientes, estritamente não familiares, costumavam causar um grande pavor.

As mudanças quase sempre impactavam de maneira insuportável a minha forma de lidar com o mundo. Lembro claramente que todos o primeiros dias de aula eram movidos a choro. A mudança de professor, de sala, de coleguinhas, eram tão assustadoras que a única forma de expressão eram as lágrimas.


Mas o chororô durou até a primeira série do primário (hoje em dia acho que se chama primeira série do fundamental). Aquela deve ter sido a primeira vez que engoli o choro. Os olhos cheios de lágrima, muitos soluços, mas me mantive firme até o fim do primeiro dia.

Felizmente ou infelizmente, as mudanças escolares foram uma constante durante toda minha a vida. Desde sempre. Digo felizmente porque isso me proporcionou enxergar uma diversidade de coisas que talvez não pudesse enxergar, caso continuasse numa única escola. Infelizmente, pois, criar laços e amizades desde o tempo da escola sempre foi mais difícil.

As mudanças foram realmente muitas. Uma das mais importantes foi a ida para o colégio militar de salvador, situado no bairro Dendezeiros. Como foi difícil ser novato ali... (!)



Pra começar eu não tinha nome, era apenas “o novato”. Em um colégio onde as vagas são muito disputadas há pouca abertura pra novas caras, o que tornou essa experiência ainda mais complicada.

A adaptação foi muito difícil, afinal, aquela era uma escola enorme e eu apenas havia estudado em escolas de ambientes mais familiares. Além do mais, pela primeira vez tinha um professor para cada matéria. Pra piorar, eram 4. Não chorei no primeiro dia, mas chorei durante vários dias e por motivos distintos. Era o fim de 2 anos ininterruptos de “firmeza” em não chorar.

Aceitar a pecha de novato foi esquisito, além de toda aquela disciplina militar que, de fato, enquadra qualquer ser humano em uma lógica dura, talvez perversa, afinal, você não é você e sim um número. Sim (!), além da impessoalidade de te chamarem pelo seu sobrenome, você carregava um número que levaria por todo ano e, talvez, por toda trajetória escolar, caso a turma continuasse a mesma.

Arrumei algumas encrencas. Na verdade, a maioria delas não eram arrumadas por mim (nem podia, pois, sempre fui um dos menores da turma), e isso foi uma constante nos primeiros meses.

As aulas eram terríveis. Havia um grande distanciamento entre os professores e os alunos e aquele ambiente se tornava cada vez mais hostil.

Demorei a me adaptar, mas, finalmente, após alguns meses, consegui. As aulas e os coleguinhas já não eram problemas, ainda que eu fosse “o novato”, e logo já estava ajudando os outros nas atividades escolares, o que me permitiu maior inserção com a turma.

No final das contas, ao que parece, o grande segredo é ser aceito e fazer parte de algo por mais que as diferenças pareçam traços fundamentais da sua personalidade. Nessas horas; o melhor mesmo é ser igual a todo mundo.

Fui um bom aluno graças as aulas de reforço escolar que me proporcionavam a atenção necessária para aprender as coisas. Isso me permitiu estar entre os bons da turma, o que me fez ser aprovado com médias boas. Nada mal para um mediano em busca de ambientação.

O processos de socialização na infância podem ser descritos como um grande ato de violência. A confrontação, o desafio, a imposição, são os temperos que vão moldando a individualidade de cada um. A escola talvez seja a expressão máxima disso tudo.

É claro que as coisas mudaram bastante de lá pra cá. Mas algo permaneceu, a mudança. Sim, apenas ela foi permanente.

Desde então, foram muitas cidades, muitos cursos e algumas universidades. Sou grato por ter tido esta boa chance.

Às vésperas de mudar de cidade mais vez, acho que mais do que nunca estou preparado para encará-la novamente.

Sem choro...mas com aquele friozinho na barriga...

Nenhum comentário:

Postar um comentário