domingo, 18 de janeiro de 2015

Nem isso, nem aquilo

Fotografia ou video? Cinema o teatro? Livro ou filme? MMA ou boxe?

Nós, indivíduos falíveis, temos a necessidade inerente de classificar gostos e coisas de modo a torna-las, quase sempre, roteiros efêmeros. Ocorre que, cognitivamente, a nossa forma de elaborar e apurar as nossas afeições rotineiramente se constroem a partir destes métodos, estejamos ou não atentos sobre eles.

Pôr do sol da usina do gasômetro em Porto Alegre
Recentemente, quando comecei a me dedicar à literatura cinematográfica, me dei conta de uma dessas polarizações tão comuns entre os gêneros das coisas. Em que pese a minha recente adesão a teoria do cinema, me pareceu, a priori, uma grande injustiça classifica-lo como arte rude se comparado ao teatro. Claro que esta comparação tem um vigor diferente quando se trata dos primórdios do cinema, mas, mesmo assim, me parece injusto.

Dia desses, estava escutando uma entrevista muito interessante com um músico muito interessante. Disse ele: “ não gosto de cinema! Colocam você numa sala, agora com óculos 3D, com um som ensurdecedor numa tela enorme e quando você chora eles ainda dizem que te fizeram ficar emocionado”. Pensei naquilo durante dias e, mesmo assim, não consegui sequer por um momento cogitar que aquilo poderia fazer sentido.


Acho que muitas formas de arte não deveriam ser contrapostas como um mecanismo de competição entre elas. Esse raciocínio me parece viciado e preso em uma equação binária que só empobrece a capacidade de qualquer indivíduo de se permitir interpretar aquilo que esta ao seu redor.  Seria tão infrutífero quanto comparar o construtivismo soviético com o surrealismo de Dali.

Ainda pensando na entrevista deste músico, me deparei com outra entrevista em um canal de esportes que falava sobre a ascensão do MMA no mundo dos esportes e, consequentemente, a decadência do
A beira do guaíba em porto alegre
boxe. O cara falava: “boxe é vinho e requinte, e MMA é cerveja e sanduiche de trailer”. Talvez o meu gosto pouco apurado ainda prefira uma cerveja bem gelada e um dogão do Betão, mas de fato fico com o que aparentemente tem menos valor, mesmo não dispensando a oportunidade de degustar um bom vinho chileno.

A mesma coisa acontece com livros e filmes. Tem sempre aquele\a chato\a que insiste em te dizer que prefere o livro ao filme que você se amarrou. Simplesmente são narrativas diferentes e, se você utilizar a ideia de simplesmente entender isso, talvez consiga saboreá-los da melhor maneira. Arrisco a dizer que muitas vezes o filme pode ser tão bom quanto, ou melhor.

Por exemplo, “Ensaio sobre a cegueira”, do grande Saramago, um excelente livro e um filme perfeitamente fiel, no que tange a minha imaginação das cenas.

Mas enfim... cada um na sua e assim a vida segue.

Quanto mais eu estudo cinema, mais eu me divirto e me surpreendo.

Sem essa de competir com os estilos, acho que devemos aprendê-los e apreendê-los como elementos complementares da cognição individual.

P.s: Levemente gripado, mas muito satisfeito.

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