Eu devia ter entre 6 e 7 anos quando meu pai resolveu que
sairia do emprego dele em uma fábrica, para trabalhar como taxista. Nosso padrão
de vida, que era mediano, foi lá pr´o chão e os tempos difíceis chegaram.
No inicio da década de 90 as coisas eram muito incertas. Um presidente
havia sido posto pra fora, o mundo
ainda sentia os odores da bipolaridade e os aparelhos eletrônicos eram coisas extremamente caras.
O primeiro táxi do meu pai era um gol daqueles bem antigos. O
taxímetro não era digital, era daqueles de girar e o barulhinho lembrava o
de dar corda numa caixinha de músicas.
Certo dia, meu pai chegou em casa com a frente do carro
afundada. Havia caído em um dos muitos buracos de salvador. Eu já era um garoto com pleno entendimento do que se passava, mas, lembro-me, não fui muito
afetado por aquilo. Pelo menos não psicologicamente. Tive pouco envolvimento.
Lembro-me apenas da minha mãe, uma mulher muito guerreira, ao
jeito dela, dizer mais ou menos pra ele: “vamos superar isso”.
O carro ficou parado na frente de casa quase um ano.
Acho hoje, que houve uma mobilização familiar que ajudou meu
pai a comprar um outro taxi.
Do gol velhinho, que nos levou durante muitos anos pra
escola e nos alimentou, meu pai passou a ter um taxi chevet, usado, mas, bem
mais novo.
Passeávamos nele. Volta e meia passávamos o final de semana
na casa de um tio, ou da minha vó.
Nesses passeios, minha mãe
perguntava pro meu pai se ele tinha colocado gasolina no carro. E ele sempre
dizia pra não esquentar. Umas três ou quatro vezes, quase que consecutivamente,
ficamos no meio do caminho.
Que boca!
E era aquela guerra.
Minha mãe falava horrores e colocava a culpa nele.
Por vezes, passamos apertos de ficarmos parados na BR a
noite por conta disso.
É engraçado, sentia a mesma raiva.
Coisa simples, parar num posto e colocar gasolina pra
máquina funcionar.
É, talvez, olhando de fora.
Vai entender os motivos reais da teimosia do velho.
Depois de um tempo ele vendeu o taxi e passou a trabalhar no
caminhão.
Aliás, diziam que era o destino da nossa família. Os homens eram
motoristas e as mulheres eram quase todas professoras.
Apesar disso, dirigir um carro com alguma competência foi algo
que veio bem tarde pra mim.
Acho que fugi a regra dos homens da família.
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