domingo, 17 de agosto de 2014

Aperte o plEi

As situações limite geralmente servem para nos dar uma amostragem das nossas reações diante dos acontecimentos. O que não quer dizer que uma situação limite seja a prova da sua habilidade\inabilidade ou tempero\destempero.

A construção da vida cotidiana me parece muito mais determinante. Aliás, prestar atenção nos próprios rastros é a melhor forma de saber como e o que se esta fazendo por aí.

(*)

Videocassetes são engenhocas maravilhosas criadas há tempos atrás. Lá na vizinhança, fomos umas das primeiras casas a possuir um. Não lembro exatamente a marca, mas aposto que se o visse por uma imagem googleniana acertaria de primeira o modelo.

Além da sua usualidade, ainda marcava o horário. Tanto que, não se podia tirar da tomada sem acertar o horário. Ou pior, desliga-lo e ligá-lo na energia poderia deixá-lo piscando ao meio dia durante semanas.

Foi numa dessas que aprendi o que significava post e ante meridiem.

Os desenhos nos botões são exatamente iguais até hoje. O triângulo equilátero é play, a bolinha é stop, o pause são traços semelhantes às aspas e, assim, cada comando segue com o seu respectivo símbolo.

(*)

Dia desses, numa aula de história, o professor fazia uma regressão aos tempos do telefone de disco. Explicava ele, que a indústria tentou pensar em diversos tipos de formato para as teclas dos aparelhos, mas elas se mantiveram praticamente inalteradas ao longo das décadas.

Ainda não venci a preguiça para dedicar um pouco de tempo pra entender mais ou menos isso.

De toda forma, tem haver com a maneira como associamos imagens\sons na nossa cabeça.

Por falar em apertar o play, tempos atrás fui morar com um tio meu no interior. Divisa entre Bahia e Pernambuco.

Meu tio é um cara legal. Com os defeitos dele, é um cara de coração enorme. Enchia a casa dele de crianças as quais cuidava da educação, para além dos seus três filhos.

Nós metropolitanos\citadinos tendemos a achar o pessoal do interior engraçado. Acredito que a recíproca seja a mesma.

Uma das crianças que povoavam a casa do meu tio era de um interior, bem interior, na Bahia. Lembro-me que, alguém havia perguntado a esta mesma criatura como é que ligava o aparelho de som.

E o moleque arrematou – “você vai lá, aperta o pô-u-er e depois aperta no plá-i”.

Claro, a gargalhada foi geral.

Qual era a obrigação dele de ter os trejeitos com a americanização da nossa linguagem?

Nenhuma.

Mas o pior, é que no final das contas, foi o primeiro pirralho da casa a aprender a mexer no aparelho novo.

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