A repercussão das denuncias iniciadas pelo ex funcionário da
agência de segurança norte-americana, nsa, Eduard Snowden, revelam ao mundo o
patrulhamento político-econômico que o Estado norte-americano impõe a todos os
países. As revelações dão conta de uma pequena parcela de uma engrenagem,
certamente muito maior, que coloca em cheque os jargões democráticos os quais
assentam os EUA.
Os serviços de espionagem nunca deixaram de existir, apenas
se adaptaram ao novo período pós-guerra fria e servem aos interesses das
multinacionais ianques, cooptando dados estratégicos em outros países com a
conivência
das potências européias. Dessa forma, o apregoado “neo-liberalismo” não pode
ser compreendido como um mecanismo de reestruturação do capitalismo quando o
mais elementar abc desta corrente é simplesmente suprimida.
Para além das questões econômicas, as liberdades individuais
estão postas em risco permanente, submetida aos interesses de empresas privadas
os mesmo e Estados adversários que espionam qualquer um. Esse mundo das sombras,
repleto de características de contos policiais, movimenta milhões do serviço de
inteligência dos EUA. Os próprios cidadãos americanos são vigiados
frequentemente sob a justificativa de combate ao terrorismo.
As grandes empresas da informação trabalham em parcerias com
governos que lhes garantem espaço na disputa comercial, o que naturalmente se
reverte em fatias do mercado. Como regulamentar a inviolabilidade das informações
de milhões de usuários quando os gerentes são as multinacionais? E mais, como
garantir que essa informação não seja simplesmente repassada aos interesses
bélicos e comerciais de qualquer país quando a rede mundial deveria justamente
cumprir o papel de democratizar a informação pelo mundo?
Essas questões, aparentemente banais, são de grande
relevância na disputa contra-hegemônica do acesso a informação e guardam
consigo uma armadilha perigosa que visa satisfazer o afã dos grandes veículos
de informação aqui no Brasil. Os editoriais dos jornais globais nas ultimas
semanas embarcam nestas denuncias como oportunidade de atacar o Google na sua
disputa por mercado aqui no Brasil. O choque de interesses, revelado pelo noticiário é nada mais que um choque de interesses privados e não há nada de soberania nacional nisso.
Caçado pelo mundo inteiro, o ex técnico da agência
norte-americana agora busca asilo em algum país que tenha disposição de
recebê-lo. Os EUA tentam pressionar os países para que não concedam estadia ao
dissidente Snowden tentando caçar qualquer possibilidade de cidadania ao seu
compatriota. O governo americano parece estar deveras disposto na sua captura
para julgá-lo em seu território, o que seria uma temeridade a vida deste
individuo a exemplo do chefe do wikileaks.
O Itamaraty por sua vez cometeu uma postura indigna na luta
pelos direitos humanos quando sequer considerou o pedido de Snowden. Aparentemente,
os últimos acontecimentos internos levaram o governo brasileiro a evitar qualquer
tipo de tensão externa, principalmente com a principal potência estrangeira. De
toda forma, as lutas pelos direitos humanos e pelas liberdades individuais
sempre pautaram a política externa deste governo e essa atitude revela, no mínimo, um contra-senso.
Incertezas de uma contemporaneidade complexa, repleta de
caminhos tortuosos e virulentos de um mundo cada vez mais empurrado para o
abismo cavado pelos interesses capitalistas.
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