sábado, 29 de junho de 2013

Breve balanço das manifestações no Brasil.

As manifestações contra o aumento das passagens em diversos municípios do território nacional demonstram muito mais que uma insatisfação contra um serviço mal prestado à população. Aliás, falar de transporte público no Brasil é sinônimo de péssima qualidade na maioria dos casos. Os grandes centros
urbanos contam com frotas irregulares, cheias, lentas e ainda obrigam os trabalhadores a deixar uma grande parcela dos seus recebimentos mensais nas mãos dos empresários.

Pesquisas apontam que o gasto com transporte chega a ser o segundo ou terceiro maior gasto para uma família trabalhadora.

O desrespeito ao cidadão é grande. Algumas capitais chegam ao limite do absurdo, com um transporte que simplesmente não funciona, como é o caso da Aracaju, salvador, recife e Brasília. Isso pra ficar em algumas metrópoles.

Por sua vez, os empresários de ônibus configuram-se enquanto uma categoria (de gangsteres) altamente organizada e com grande capacidade de influência nas instituições políticas do Estado. O lobby dos setores do transporte transita desde os grupos naturalmente conservadores como os políticos de direita, passando também por mandatos e organizações da própria esquerda.

Mas as manifestações tendem a não se limitar apenas a questão objetiva do transporte público. O povo na rua é o acúmulo de muitos anos de ofensiva conservadora e o seu engenhoso aparato de manipulação, a mídia. A sistemática campanha para se fazer crer em um determinado estado de coisas choca-se, irreparavelmente, a partir do ganho de consciência proporcionada por outras fontes de informação massificadas através do acesso a internet.

Redes sociais transformaram a forma de mobilização.
A partir da popularização de telefones celulares capazes de filmar, fazer fotos com alta resolução e a combinação desses ingredientes com a grande dinamicidade das redes sociais, blogs, torpedos etc, gerou um cenário favorável ao acesso a informação. É possível assistir em tempo real manifestações, debates e todo o tipo de intervenção a partir dessas novas ferramentas de comunicação.

As vias tradicionais de informação declinam e as massas demonstram um alto de grau de criatividade capaz de atrair e recrutar ativistas de diversas causas potencializando as suas necessidades.

O sinal de alerta esta ligado para os senhores donos das mídias tradicionais. Todos eles sabem, e estão convencidos, de que cedo ou tarde toda essa catarse será canalizada, de uma forma ou de outra, contra o seu monopólio. A preocupação nas redações é frequente e tende a aumentar, pois, o que está colocado em questão de fato não é simplesmente o aumento do valor no transporte e sim a opressão do aparato estatal acumulado desde a redemocratização.

O direito a manifestação também é colocado em cheque quando o aparato policial, visivelmente despreparado, ataca os manifestantes. A cobertura da imprensa vociferou qualificando de vândalos os jovens nas ruas. A polícia reprimiu da pior maneira possível, demonstrando a decadência desta ferramenta constituída para dissuadir dissidentes políticos.

Seria a desmilitarização da PM a próxima demanda reprimida a fazer parte da agenda dessas manifestações?

A esquerda precisa disputar essa agenda.

Por que a mídia mudou de postura?



A mudança de postura dos setores conservadores diante das manifestações revela uma leitura de que o movimento não tem donos e concentra um alto grau de espontaneísmo dos sujeitos. A direita compreendeu que pode disputar a concepção política das insatisfações populares incentivando a sua agenda na pauta, como a luta contra a PEC 37, o “combate” contra a corrupção e, em certa medida, a desqualificação da institucionalidade.

Essa série de componentes, quando combinados, revelam a fragilidade dos mecanismos de repressão e a
imensa dificuldade (outrora tão eficaz) da burguesia tradicional em desqualificar e esvaziar esses atos. É possível perceber o esgotamento da criminalização do movimento contra o aumento de passagens, quando dois dos mais raivosos apresentadores\comentaristas de programas sensacionalistas, José Luis datena e Arnaldo jabor são obrigados a mudar de opinião sobre os manifestantes. Após uma enquete ultra tendenciosa em um dos seus programas na TV bandeirantes, o telespectador se mostrou favorável as mobilizações rechaçando a tentativa de confundir a população. Veja aqui  e aqui . Já o decante intelectual asqueroso global fez um mea culpa e disse que estava errado. veja aqui e aqui .

seqüestro da pauta

o cenário muda dia a dia. O giro da mídia em direção as manifestações pretende potencializar a revolta popular e canalizá-la contra o governo.

A direita tupiniquim é estúpida o suficiente para driblar essas manifestações. É necessário entender que nós não estamos imunes a uma intervenção estrangeira. É possível que essa mudança de estratégia da mídia
tenha orientação de externa, e os seus órgãos de inteligência que já demonstrou pouca disposição com governos progressistas.

Parece absurdo? No Paraguai, na Venezuela e em Honduras também parecia.

as instituições brasileiras são mais sólidas?

De fato são, mas os capítulos recentes da disputa política no Brasil estão sendo feitos justamente neste terreno que sofre um grande desgaste provocado pelo conservadorismo. O mesmo conservadorismo utiliza a estratégia de desqualificar as instituições como forma de atingir o governo. Algo extremamente perigoso, mas história parece se repetir.

O cenário de instituições desmoralizadas e a falta de pauta política do movimento massas é o terreno livre para o fascismo. A insatisfação generalizada com as condições de vida e as desigualdades sociais ainda gritantes são componentes explosivos.

A pauta dos articulistas dos jornalões é desacreditar as massas diante do congresso, não porque de fato o congresso não a represente, mas pelo fato de que no atual tabuleiro os partidos tradicionais da ordem (dem\psdb) não conseguem constituir maioria.

Em se tratando de América latina e compreendendo o mínimo necessário sobre história, não podemos descartar uma intervenção estrangeira. O imperialismo norte-americano, mais e mais avariado dia após dia, precisa interromper a ascensão progressista que varreu os países abaixo da linha do equador.
As comparações com Paraguai, Honduras e Venezuela, mesmo que guardada as devidas proporções de tempo\espaço, devem ser levadas a sério pelo governo brasileiro.

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