quinta-feira, 14 de março de 2013

Breves considerações sobre Cuba

A popularidade de Yoani Sanchez não existe em Cuba
O inicio do mês foi marcado pela polêmica visita da ativista pró-imperialista, a cubana Yoani Sanches no Brasil. Yoani foi recepcionada como muita pompa pela mídia tradicional como a revista Veja, a Folha de São Paulo e O Estadão, o mesmo jornaleco que emprestava carros para agentes da ditadura militar durante o seu regime. Em contrapartida a mesma teve uma recepção indigesta por parte de organizações e militantes de esquerda que se sentiram afrontados com a presença da dissidente mais famosa do regime de Fidel.

Imediatamente se estabeleceu uma profunda polêmica sobre o que seria direito de se manifestar e o direito de uma representante do imperialismo internacional propagandear a sua oposição ao governo cubano. Até aí tudo muito bom, tudo muito bem. Experimentamos um sentimento que nos reportou a época em que o mundo era um composto bipolar entre os EUA, a potência capitalista e a URSS potência comunista. Porém, convenhamos, o macarthismo de quinta categoria vociferado por esta senhora é de dar náuseas em qualquer pessoa com o mínimo senso histórico e social.


Para aqueles\as que não lembram e não tiveram oportunidade de se aprofundar em história no ensino médio, Cuba era uma ilha que servia de extensão para os ricaços americanos e de outras nacionalidades que procuravam “diversão”, ou uma fuga de sua realidade. Também era dona de muitos bordéis, na sua maioria requintados, onde os nobres cavalheiros torravam suas economias em bebidas e belíssimas mulatas na flor da idade.

A caricata imagem que marcou o século XX de jovens abusados, barbudos, cheios de vitalidade e transgressores de ordens que caracterizou os revolucionários de Sierra Maestra ainda repercute profundamente no imaginário da esquerda do mundo inteiro. Liderados por Fidel e seu irmão Raul e por um tal de Ernesto Guevara de la Sierna a revolução cubana foi um dos maiores acontecimentos do século passado. Além disso, foi determinante para a manutenção do equilíbrio no tabuleiro do xadrez afrontando o imperialismo norte-americano em um continente que julgava sob sua tutela.

As canhotas então resolveram disputar quem esta mais à esquerda – esporte preferido de muitos militantes das diversas organizações políticas em todo o mundo. Os morenistas do PSTU falaram do direito de liberdade de expressão de Yoani e criticaram o regime castrista em detrimento das liberdades individuais. Por outro lado alguns companheiros do PT preferiram a defesa ferrenha dos castro como se a ilha fosse de fato a expressão da superação de um regime opressor capitalista.
Literalmente 24 horas na internet.

Vários argumentos foram utilizados. Quero me deter a um de cada lado, tendo em vista que discordo radicalmente das duas posições tanto do ponto de vista do método quanto do ponto de vista da leitura de conjuntura. A) o PSTU cita Trotsky ao dizer que as premissas para a defesa de um estado operário, mesmo que burocratizado, não mais existem em Cuba por conta do controle da produção e do papel do Estado. B) um companheiro da EPS prefere explorar a contradição da defesa do PSTU no próprio Trotsky apontando que a NEP* representava uma conduta econômica semelhante à abertura que hoje a ilha experimenta.

Na minha avaliação o PSTU se equivoca ao não atualizar os elementos que Trotsky apresenta em o “programa de transição” sobre os Estados operários burocratizados. Em pleno século XXI e no contexto da América latina pensar em um modelo de Estado “socialista” tradicional em uma pequena ponta de areia no caribe é, no mínimo, anti-dialético. Afinal de contas, a própria doutrina marxista aponta para o choque das forças produtivas com as relações de produção e isso podemos afirmar que a ilha não atravessou para se chegar a revolução. Aliás, as forças produtivas em Cuba jamais atingiram um grau de desenvolvimento capaz de gerar uma classe operária no sentido marxista do termo.

Já argumentação feita pelo companheiro da EPS carece de norte e localização devida, tendo em vista as condições históricas em que a NEP* foi desenvolvida. A NEP na URSS foi um mecanismo de dinamização da produção na economia soviética com o intuito de valorizar os camponeses a produzirem para que as cidades e os operários se alimentassem. Isso gerou uma série de reações ais quais não tratarei aqui. O que importa de fato é distanciar em absoluto qualquer comparação da NEP com as ultimas medidas adotadas por Raul Castro e os demais dirigentes cubanos naquele país.

Ainda, a NEP era uma medida emergencial pautada em uma organização militar de trabalho que visava aprontar a produção do que havia restado em uma Rússia devastada pela primeira guerra e pela guerra civil. Em outras palavras, uma medida que reforçava a pequena-burguesia campesina até que a revolução alemã, que na cabeça dos bolcheviques aconteceria a qualquer momento, salvasse a Europa e toda a humanidade. Como sabemos, não foi o que aconteceu.

O certo mesmo é que muito se fala sobre Cuba. Radicalismos a parte eu penso é que poucos conseguiriam sobreviver à disciplina de um regime comunista isolado pelo bloqueio norte-americano. Acordar cedo? Horas reguladas de acesso a internet? Quotas de víveres por famílias? Ihhhh...sei não, viu?

Eu defendo Cuba e os avanços da revolução contra qualquer investida e assédio do imperialismo. Acho que a burocracia do governo cubano é produto histórico de uma revolução isolada.

Em resumo, acho que são duas posições equivocadas, mas louvo o debate, pois, havia muito tempo que uma discussão minimamente séria não ocorria por essas listas.

Quanto a Yoani, esta vive uma vida muito boa, mesmo com as privações da ilha. A blogosfera diz aos quatro ventos que ela recebe um salário de seis mil dólares da SIP para ficar no tuiter o dia inteiro falando mal do governo.


*Nova política econômica

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