Por Diego Rabelo**
A política esta presente cotidianamente nas nossas vidas. É
quase imperceptível, mas o simples ato de fazer escolhas entre canais de TV com
o controle remoto na mão se torna um exercício político. Nos deparamos com
essas decisões tão comuns a todo o tempo e, a maioria das vezes, é muito
difícil se dar conta.
Os esportes sempre foram sinônimos de muita disputa não só
dentro dos seus devidos recintos, mas também expressam de forma organizativa o
comportamento das sociedades. A hegemonia econômica e militar norte-americana
ao longo dos anos também se demonstrou nas piscinas, nas quadras, nos campos
e nas pistas de atletismo. A predominância do mundo capitalista sobre os seus
rivais ficou nitidamente exposta nas seguidas olimpíadas desde o mundo bipolar.
A relação da política com o esporte não é um tema
genuinamente novo, mas continua despertando a curiosidade de estudiosos sejam
eles acadêmicos ou autodidatas. Não esqueço um texto que li há alguns anos
atrás sobre a rivalidade entre dois times italianos, o Livorno (de esquerda) e
a Lazio (fascista). Aquilo me despertou um sentimento de pertencimento
diferente de qualquer outra coisa que havia vivido na minha militância.
Ainda em 2007 vi o atacante Drogba, muito famoso no futebol
inglês, utilizar-se da sua posição de astro mundial para pôr o “dedo na cara”
do ditador do seu país. Costa do Marfim vivia sob uma sangrenta guerra civil
entre cristãos e mulçumanos há mais de 5 anos e sua seleção enfrentaria
Madagascar em partida decisiva pela copa das nações africanas. Dias antes o
negão foi lá no palácio presidencial e disse que o jogo deveria ser em Bouaké,
capital dos rebeldes. Acuado, o ditador cedeu forçando os dois lados do
conflito a cantarem, juntos, o hino de seu país antes da partida.
Ah, o resultado? 5 à 0 para Costa do Marfim. Um gol para
cada ano de guerra civil, diziam.
Desde então pesquiso de forma desinteressada os times de
futebol que tem relação com as idéias das canhotas. Além do Livorno na Itália,
descobri o Rayo Vallecano na Espanha, o Celtic na Escócia, o St Pauli na
Alemanha e muitos outros. O futebol é uma maneira incrível de se expressar
politicamente. Sejam lutas de resistência popular, sejam maneiras de
desqualificar um regime de exceção. O saudoso marxista Sócrates e a democracia
corintiana que o diga. Um evento de massas para falar para as massas. Fantástico!
Infelizmente hoje no Brasil as manifestações encontradas não
são tão exemplares. As torcidas organizadas aglomeram milhares de lúmpens que
se agridem semanalmente sem muito sentido, afastando pessoas normais dos
estádios. Os jogadores... bom, esses estão muito preocupados com seus salários
milionários e os “bichos” distribuídos nos vestiários para “motivar” a vitória.
Como se um rendimento de cem ou duzentos mil não fosse suficiente a tal
objetivo.
Mas é assim em todos os lugares. O futebol se transformou em
uma mercadoria milionária que aquece diferentes setores da economia mundial. Os
títulos e as grandes jogadas se tornam pequenos detalhes diante do tamanho das
cifras.
Essa semana estava a ver gols dos amistosos internacionais e
uma partida em especial me chamou a atenção. Era Estados Unidos e Rússia.
Fiquei imaginando aquela partida num contexto de 30 ou 40 anos atrás. Hoje,
trata-se simplesmente de um amistoso internacional e que talvez nada ou muito
pouco represente de política para alguém.
É, os tempos mudaram e em todos os aspectos, diria o subconsciente
saudosista.
...Ah, o resultado de Rússia e EUA? Empataram em dois a
dois.
*Singela alusão ao livro de Franklin Foer “Como o futebol explica o
mundo”.
**Diretor Direitos humanos da UNE.
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