As manifestações contra o aumento das passagens em diversos
municípios do território nacional demonstram muito mais que uma insatisfação
contra um serviço mal prestado à população. Aliás, falar de transporte público
no Brasil é sinônimo de péssima qualidade na maioria dos casos. Os grandes
centros
urbanos contam com frotas irregulares, cheias, lentas e ainda obrigam
os trabalhadores a deixar uma grande parcela dos seus recebimentos mensais nas mãos dos empresários.
Pesquisas apontam que o gasto com transporte chega a ser o
segundo ou terceiro maior gasto para uma família trabalhadora.
O desrespeito ao cidadão é grande. Algumas capitais
chegam ao limite do absurdo, com um transporte que simplesmente não funciona,
como é o caso da Aracaju, salvador, recife e Brasília. Isso pra ficar em algumas metrópoles.
Por sua vez, os empresários de ônibus configuram-se enquanto
uma categoria (de gangsteres) altamente organizada e com grande capacidade de
influência nas instituições políticas do Estado. O lobby dos setores do transporte transita desde os grupos naturalmente conservadores como os
políticos de direita, passando também por mandatos e organizações da própria
esquerda.
Mas as manifestações tendem a não se limitar apenas a
questão objetiva do transporte público. O povo na rua é o acúmulo de muitos
anos de ofensiva conservadora e o seu engenhoso aparato de manipulação, a
mídia. A sistemática campanha para se fazer crer em um determinado estado de
coisas choca-se, irreparavelmente, a partir do ganho de consciência
proporcionada por outras fontes de informação massificadas através do acesso a
internet.
![]() |
Redes sociais transformaram a forma de mobilização. |
A partir da popularização de telefones celulares capazes de
filmar, fazer fotos com alta resolução e a combinação desses ingredientes com a
grande dinamicidade das redes sociais, blogs, torpedos etc, gerou um cenário
favorável ao acesso a informação. É possível assistir em tempo real
manifestações, debates e todo o tipo de intervenção a partir dessas novas
ferramentas de comunicação.
As vias tradicionais de informação declinam e as massas demonstram
um alto de grau de criatividade capaz de atrair e recrutar ativistas de
diversas causas potencializando as suas necessidades.
O sinal de alerta esta ligado para os senhores donos das
mídias tradicionais. Todos eles sabem, e estão convencidos, de que cedo ou
tarde toda essa catarse será canalizada, de uma forma ou de outra, contra o
seu monopólio. A preocupação nas redações é frequente e tende a aumentar, pois,
o que está colocado em questão de fato não é simplesmente o aumento do valor no
transporte e sim a opressão do aparato estatal acumulado desde a
redemocratização.
O direito a manifestação também é colocado em cheque quando
o aparato policial, visivelmente despreparado, ataca os manifestantes. A
cobertura da imprensa vociferou qualificando de vândalos os jovens nas ruas. A
polícia reprimiu da pior maneira possível, demonstrando a decadência desta
ferramenta constituída para dissuadir dissidentes políticos.
Seria a desmilitarização da PM a próxima demanda reprimida a
fazer parte da agenda dessas manifestações?
A esquerda precisa disputar essa agenda.
Por que a mídia mudou
de postura?
A mudança de postura dos setores conservadores diante das
manifestações revela uma leitura de que o movimento não tem donos e concentra
um alto grau de espontaneísmo dos sujeitos. A direita compreendeu que pode
disputar a concepção política das insatisfações populares incentivando a sua
agenda na pauta, como a luta contra a PEC 37, o “combate” contra a corrupção e,
em certa medida, a desqualificação da institucionalidade.
Essa série de componentes, quando combinados, revelam a
fragilidade dos mecanismos de repressão e a
imensa dificuldade (outrora tão
eficaz) da burguesia tradicional em desqualificar e esvaziar esses atos. É
possível perceber o esgotamento da criminalização do movimento contra o aumento
de passagens, quando dois dos mais raivosos apresentadores\comentaristas de programas
sensacionalistas, José Luis datena e Arnaldo jabor são obrigados a mudar de
opinião sobre os manifestantes. Após uma enquete ultra tendenciosa em um dos
seus programas na TV bandeirantes, o telespectador se mostrou favorável as
mobilizações rechaçando a tentativa de confundir a população. Veja aqui e aqui . Já o decante
intelectual asqueroso global fez um mea culpa e disse que estava errado. veja aqui e aqui .
seqüestro da pauta
o cenário muda dia a dia. O giro da mídia em direção as
manifestações pretende potencializar a revolta popular e canalizá-la contra o
governo.
A direita tupiniquim é estúpida o suficiente para driblar
essas manifestações. É necessário entender que nós não estamos imunes a uma
intervenção estrangeira. É possível que essa mudança de estratégia da mídia
tenha orientação de externa, e os seus órgãos de inteligência que já demonstrou
pouca disposição com governos progressistas.
Parece absurdo? No Paraguai, na Venezuela e em Honduras
também parecia.
as instituições
brasileiras são mais sólidas?
De fato são, mas os capítulos recentes da disputa política
no Brasil estão sendo feitos justamente neste terreno que sofre um grande
desgaste provocado pelo conservadorismo. O mesmo conservadorismo utiliza a
estratégia de desqualificar as instituições como forma de atingir o governo. Algo
extremamente perigoso, mas história parece se repetir.
O cenário de instituições desmoralizadas e a falta de pauta
política do movimento massas é o terreno livre para o fascismo. A insatisfação
generalizada com as condições de vida e as desigualdades sociais ainda
gritantes são componentes explosivos.
A pauta dos articulistas dos jornalões é desacreditar as
massas diante do congresso, não porque de fato o congresso não a represente,
mas pelo fato de que no atual tabuleiro os partidos tradicionais da ordem
(dem\psdb) não conseguem constituir maioria.
Em se tratando de América latina e compreendendo o mínimo
necessário sobre história, não podemos descartar uma intervenção estrangeira. O
imperialismo norte-americano, mais e mais avariado dia após dia, precisa
interromper a ascensão progressista que varreu os países abaixo da linha do
equador.
As comparações com Paraguai, Honduras e Venezuela, mesmo que
guardada as devidas proporções de tempo\espaço, devem ser levadas a sério pelo
governo brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário