![]() |
Guilherme Leal, presidente da Natura, acumulou uma fortuna estimada em US$ 2,1 bilhões |
Na semana passada tivemos um evento que pretende criar a
mais nova legenda partidária impulsionada pelo “movimento por uma nova política”,
capitaneada pela ex ministra do meio ambiente Marina Silva. A sua capacidade de
aglutinar setores descontentes em outros partidos e de apresentar uma
alternativa política\eleitoral para a desgastante polarização entre petistas e
tucanos ainda é uma incógnita. O certo é que a tentativa tem chances de
lograr êxito, haja vista, uma série de fatores tortuosos impulsionados pela
mídia tradicional para atingir o PT, mesmo que ainda estéreo do ponto de vista
de apresentar uma solução partidária.
Seria o partido de Marina uma opção para a militância
descontente com os rumos do governo e do PT? Quais são os desafios para que
essa nova agremiação conflua e dê liga aos órfãos partidários alheios? Será à
esquerda ou à direita, oposição ou situação?
Não há respostas muito precisas para essas indagações, mesmo
que ainda seja possível tatear algumas conjecturas do desenvolvimento
político-partidário nos últimos anos de governo petista. Não se
sabe muito bem qual o programa político será defendido pela agremiação que
contará com uma pra lá de diversa composição.
Importante aspecto a ser observado no último período são as
dissidências advindas do PT ao longo da última década. O PSOL, uma ruptura a
“esquerda” do PT, assume o discurso antipetista com uma agenda conservadora e
altamente nociva para a política nacional. Isso não acontece agora, com o
julgamento do chamado mensalão, mas se manifesta de maneira cabal com os
últimos acontecimentos impulsionados pelos Civita e Marinho.
Já figuras como Cristóvão Buarque parecem mais perdidas que gringo nas asas de Brasília. Sem falar na Heloísa Helena, ex-senadora da república, que disse não ter mais fetiches com partidos políticos. Leia-se vale tudo.
Já figuras como Cristóvão Buarque parecem mais perdidas que gringo nas asas de Brasília. Sem falar na Heloísa Helena, ex-senadora da república, que disse não ter mais fetiches com partidos políticos. Leia-se vale tudo.
![]() |
HH e seus pares unificados para derrotar o governo |
Me detenho a esses atores pois, via de regra, existe um
elemento comum presente em todos os discursos que experimentam a dialética do
tobogã. A crítica ao PT é sempre à esquerda, libertária, ultra revolucionária,
mas a conduta prática adotada é comprometedora e altamente duvidosa. Aliás, tem
se tornado um fenômeno muito comum dentro do partido dos trabalhadores essa
crítica moralista, sem muito fundamento teórico, é verdade, pautado na ética e
nos valores morais de uma época quase que Shangri-Lariana com o perdão do neologismo. Porém,
imediatamente o caminho seguido é à direita.
Sair à esquerda e marchar à direita tem sido mais comum do
que se pensa nos dias atuais, na verdade uma manifestação corriqueira,
geralmente acompanhada por uma amargura desenvolvida por não se ver incluso nas
estruturas governamentais. Não existem “santos” e as disputas políticas
internas ao próprio PT receberam um upgrade das estruturas estatais. Parte dos
descontentes que denunciam essa relação promíscua queixam-se, mas no fundo queriam mesmo é fazer parte de toda essa partilha e,
por tanto, nada mais natural caminhar direitosamente, mesmo que com um discurso
de retirada à esquerda. Não quero dizer que não existam criticas honestas a todo esse
processo. Sempre irão existir.
Valorosos companheiros, militantes históricos do PT, dos
movimentos sociais, aparentemente desiludidos com qualquer rumo que se tenha
tomado, seguem um caminho tortuoso e sem retorno, marchando a passos largos
rumo ao conservadorismo. A luta de classes é cruel e não compreendê-la é meter
os pés pelas mãos nas análises acerca de conjuntura política aliada a uma
leitura senso comum da realidade. Assistimos então a grandes capitulações
pautadas, contraditoriamente, em coragem e covardia. Coragem pelo fato de
saírem da inércia a qual muitos se encontram dentro do PT e covardia por se
entregarem diante de um duro cenário interno, pautado em uma lógica onde os
debates foram esvaziados, jogando a toalha diante de uma condição adversa.
Não importa o quanto você bom, brilhante ou genial, o que importa é o quanto você apanha e tem força pra levantar e continuar novamente, diria o famoso pugilista das telonas Rocky Balboa.
Não importa o quanto você bom, brilhante ou genial, o que importa é o quanto você apanha e tem força pra levantar e continuar novamente, diria o famoso pugilista das telonas Rocky Balboa.
Existe uma interessante sagacidade neste “movimento” que
aguarda o melhor momento para utilizar o capital político constituído na ultima
eleição presidencial, quando atingiu mais de 20 milhões de votos. O vácuo
emocional aberto pelo pragmatismo excessivamente eleitoral do PT combinada com,
talvez, um dos piores momentos da credibilidade partidária brasileira –
pesquisa IBOPE aponta que menos de 50% tem preferência partidária – conforma um
fenômeno que requer atenção. O cuidado de Marina e seus aliados em não lançar
uma legenda para a disputa municipal serviu para duas coisas; não desgastar a
imagem deste “movimento”; apoiar candidaturas em diversos partidos sem precisar
se comprometer com algum alinhamento partidário nacional e estabelecer relações futuras com esses apoios.
Mas é necessário muito mais que um insight para alçar-se a
influência em um país tão complexo e extenso como o Brasil. Aliás, as
investidas para atrair grandes lideranças para este novo partido até então
tem-se demonstrado pouco ou quase nada eficaz. Algumas figuras públicas que se
tornaram alvo da estratégia de marketing do movimento como Cristovão Buarque
(ex-PT), Fernando Gabeira (Ex-PT), já declinaram do convite. Em contrapartida,
a ex-senadora Heloísa Helena já embarcou na nau e deverá mesmo caminhar
conjuntamente com o empresário Guilherme Leal, dono de uma fortuna de 1,6
bilhões de dólares segundo a revista Forbes e Maria Alice Setúbal,
herdeira do banco Itaú. Também há outras figuras de menor relevância que vão se agarrar a essa possibilidade como puderem. Trata-se, afinal, de sobrevivência.
Em tempo, uma curiosidade chamou atenção durante o evento. A
ludicidade tomou conta das intervenções no plenário. Segundo Carta Capital, o
encontro seguiu uma dinâmica distinta dos encontros políticos convencionais.
Quem se sentia contemplado com as falas anteriores não precisava mais se
inscrever e gritava “rou” para demonstrar que estava contemplado na fala
anterior. Mas parece que alguém mais assanhadinho e com uma veia mais ou menos
vermelha foi lá e emplacou uma defesa da auditoria da dívida externa.
Não foi seguida de muitos “rou”.
Nós aqui falando de revolução e esse povo aí brincando de
construir partido com o pessoal da Natura.
=(
=(
Nenhum comentário:
Postar um comentário